domingo, 15 de maio de 2011

E no retorno de Paranapiacaba, um retorno maior.

Estive este fim de semana em Paranapiacaba para a 8ª Convenção de Bruxas e Magos. É um ambiente plural. Lá se encontra de tudo. Tem gente que sabe o que está fazendo, gente que nem tanto, tem palestras muito boas e muito ruins. Tem gente boa e gente a quem eu não confiaria nem uma palha seca. Tem novatos e dinossauros de todos os caminhos. Eu considero isso um dos pontos a favor da convenção. Essa possibilidade de ver de tudo, e de ouvir diferentes visões. Essa troca. E se as pessoas querem se vestir de um jeito ou de outro, quem se importa? Se ali as pessoas se sentem a vontade para usar vestes rituais no meio da rua, já que a convenção ocupa a vila inteira, que bom!

Eu fico discreta. Uso minhas roupas de todo dia. Mas escolhi meu colar preferido, um colar grandalhão, krahô, aquele que não costumo usar porque as pessoas sempre querem saber do que é feito e sempre se chocam em saber que é feito de pontas de casco de veado, que fazem meu movimento ser acompanhado de um suave som de chocalho.

Escolhi quantas atividades ligadas ao xamanismo eu consegui acertar no horário que tinha. Foram todas bastante diferentes. Mesmo na mais simples, que foi menos intensa, aprendi e pensei.

Pensei muito. O dia inteiro.

Enquanto andava, depois de uma noite sem dormir e em jejum até quase as três da tarde porque não parei tempo suficiente para comer, pensava em como sinto que preciso ser mais disciplinada para conseguir seguir adiante com constância. Pensei em tudo que tenho passado e em tudo que não tenho feito e deveria.

Minha imensa capacidade de falhar nunca deixa de se mostrar, eu pensava.

Mas as coisas são curiosas. Elas nos surpreendem, sempre. Ainda mais quando estamos pensando tanto assim.

A primeira coisa que percebi foi que eu me convenci de que sou indisciplinada e bagunceira. Mas me disseram, e eu me surpreendi, que sou organizada e organizadora, que coloco as coisas nos lugares delas. E que vejo as coisas que os outros não vêem. Depois lembrei de um texto que li, sobre criatividade, e lá falava que nós nos convencemos de que somos os rótulos que as pessoas colocam sobre nós, assumindo isso como imutável. Ela fala que precisamos transformar esses rótulos e usar a nosso favor quem nós somos.

O dia foi passando. Descobri que a única coisa que me impede de tocar tambor direito é meu medo de errar. Aliás,é o medo de errar que mais me atrapalha. Que é muito fácil que eu toque tambor direito: basta que eu tente, que eu toque. A prática é que vai fazer com que eu aprenda.

Encontrei pessoas amadas. Conversei com pessoas desconhecidas. Orientei gente perdida, fiz gentilezas. Recebi gentilezas, muitas.

Expliquei para um garoto que acaba de descobrir o paganismo sobre porque o xamanismo causa estranhamento, sobre o que é xamanismo.

E no final, depois que a noite caiu e o escuro e o frio eram mais intensos, eu percebi que não é disciplina que eu preciso. Que meu problema é outro. É unidade o que eu procuro. É unidade o que eu preciso.

Na tentativa de viver cada pedaço da minha vida dentro de uma caixinha diferente com rótulo organizador, como a sociedade me mandou fazer a vida inteira, eu me perco. Porque minhas trilhas todas convergem em uma só. Porque tudo é parte de um mesmo todo.

Unidade. Sai de Paranapiacaba com isso.

Acabou que adquiri um chocalho novo. Um com a mesma origem do meu primeiro chocalho. Voltei ao princípio, e agora, posso caminhar adiante. Mais inteira. Em busca de uma unidade que me permita viver aquilo que devo viver.