segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Jejuns, restrições e coisas assim

Comecei a jejuar porque Ele mandou. Obedeci sem questionar. Quando contei aos outros, não sei, senti que talvez fosse um pedido surpreendente. Porque Ele é vulgarmente conectado com o exagero, especialmente alcoólico, com a alegria e os banquetes.

Ainda assim, eu não questionei seu pedido. Porque sim, ele é o Senhor da Dança e da Alegria, mas também é aquele que morre e retorna, é aquele que chorou por nós- nós bebemos o seu sangue para nos libertar. Quando sinto suas mãos em meus ombros, sinto que ele é infinita beatitude mas também infinita melancolia. Ele é paradoxal em muitas coisas.  



E principalmente - ele é um deus xamã.


No primeiro ano, jejuei desde o equinócio de primavera até o solstício de verão, duas vezes por semana, ficando até o por do sol ingerindo apenas líquidos. Conforme o verão se aproxima, os dias ficam mais longos e também o jejum.

Quando o equinócio passou, eu parei os jejuns assim, feitos sempre duas vezes por semana. Fazia jejum nos dias sagrados, quando ia fazer trabalhos espirituais, mas cotidianamente, parei até chegar o equinócio de primavera. Novamente, de setembro a dezembro, jejuei duas vezes por semana.

Agora, estou jejuando pela terceira vez. Não é uma mortificação - não sou cristã, então meu jejum não tem esse sentido. É uma purificação, sim. E principalmente, entendo agora porque ele pediu isso, é uma forma de me concentrar nEle, no meu trabalho espiritual, e deixar o corpo fora do seu padrão cotidiano. Forço meu corpo a um outro ritmo, e clareio a mente.

Quando preciso trabalhar com o transe, já percebi que o jejum torna muito mais fácil o sair do meu estado normal de consciência. O jejum é uma ferramenta do meu preparo espiritual. Eu me privo de algo físico e com isso abro espaço para a meditação e para o espírito.

Este ano, não tenho mais um grupo que dê suporte ao meu trabalho espiritual. Me questionei se deveria continuar com o jejum, e quando me dei conta já havia cumprido vários dias apenas tomando líquidos do nascer ao por do sol.

Além disso, decidi por em prática algo que estava reticente em fazer. Em sonho, Ele apareceu para mim já fazem alguns meses e sugeriu que eu parasse de fumar. Não foi uma ordem, mas um pedido.

Decidi que durante a temporada de jejum, também vou me abster do cigarro. Uso o tabaco como um remédio para a ansiedade, um foco para conversas que exigem inspiração. Fumo muito pouco, só em ocasiões assim, mas mesmo assim, Ele pediu que eu parasse, então porque não obedecer? 


Durante meus jejuns, normalmente bebo leite, suco de laranja ou de uva, e uma eventual caneca de caldo quente. Bebo muita água. Na maioria das vezes, bebo um copo de leite adoçado pela manhã, goles de suco durante o dia (preparo 1/2 litro de suco para o dia todo), um copo de leite no final da tarde, e rompo o jejum comendo uvas ou pão de canela. Mesmo depois de rompido o jejum, evito comer coisas que não se relacionem a Ele, ou alimentos muito industrializados. O que me cai melhor é carne mal passada e pão, mas eu como muito pouca carne no meu dia a dia, então deixo isso para momentos especiais do processo.



Eu gosto desse processo, mas ainda estou longe de domina-lo. Este é o terceiro ano do jejum de primavera, e começo a pensar em que talvez eu possa como os hindus jejuar na lua nova e na lua cheia. 

Hoje, meu corpo está leve, e embora não tenha conseguido meditar ou orar mais longamente, me sinto satisfeita.

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