sábado, 23 de agosto de 2014
Alguns pensamentos em uma manha ensolarada de sábado - minha vivência de gênero.
Apesar de tudo, eu gosto de ser quem eu sou. Gosto de ser uma mulher de trinta e poucos e gosto de ser um garoto louco que sempre vai pulsar dentro do meu peito.
Não sou andrógina, meu corpo grita essa necessidade terra, essa coisa de touro e de cordeiro, e isso não me incomoda. Minhas ancas largas e meus peitos fartos me fazem fonte e eu alimento a terra e a água quando danço. (mesmo que as vezes, muitas vezes, eu quisesse o corpo esguio de mulher árvore, longilíneo e delicado, ligando terra e céu, e mais vezes ainda o corpo construído de músculos perfeitos e agressivos que me dessem a aparência agressiva e furiosa do meu coração).
Gosto de ser mulher. O que eu já achei que tivesse algo a ver com meu corpo físico, e com o tempo e o conhecimento e a empatia, percebi que não - se eu tivesse um corpo lido como masculino, eu seria mulher do mesmo jeito. Gosto do simbolismo agregado ao conceito, do ctônico e sombrio que um deus, apesar de masculino, me ensinou a amar em ser mulher. Gosto, e embora gosto se discuta sim, tenho o direito de depois de muito analisar e pensar me sentir confortável nessa pele. E se eu luto para que as mulheres possam ser quem elas quiserem do jeito que elas quiserem é exatamente porque eu gosto de ser mulher - e ser mulher é um significado todo meu que construí para mim a partir de minhas vivências, que são só minhas porque sempre fui uma outsider, tanto quanto pela sociedade onde eu me inseria. Sou mulher porque sou mênade. E isso me define.
Gosto de ser um garoto. (porque quando a sociedade nega o poder a um homem, o chama de "garoto" ou "mocinho", e socialmente falando eu nunca atingiria o patamar cobrado de um homem, seria/serei sempre mocinho, garoto, mesmo aos oitenta anos de idade, porque meu corpo e meu documento diz para as pessoas que sou uma mulher.) O que me fez sentir muito confusa por muito tempo até perceber que não existe nada de errado em alimentar tudo o que me faz bem, e o dândi e que habita aqui dentro está incluído nisso. E não é uma questão de pensar que sou uma mulher com características masculinas. Não. Eu tenho uma percepção não binária da coisa e me sinto genderqueer. Uma parte de mim é um homem. Um cara que aprendeu a cultuar Rhea e dançar na noite com os leões, e que é devoto de Ares, um deus sempre pronto a proteger e defender as mulheres, apesar da fama de violento.
Eu vejo a questão do gênero como um aspecto religioso/espiritual, para mim. As vezes penso em mim como alguém que tem dois espíritos, alguém que tem um processo xamânico de ser sempre à margem, entre o masculino e o feminino.
Meu gênero?
Eu sou a dança entre uma raposa e uma coruja.
Mas não vou achar isso na hora de preencher o formulário.
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